segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Meus Melhores Livros do Ano

Como tradicionalmente venho fazendo desde o ano passado, dezembro é época de passar muita dificuldade tentando escolher quais foram os cinco melhores livros que eu li no ano. Esse ano a escolha não foi menos difícil, mas ao invés de eu ficar reclamando sobre, vou mostrar logo de uma vez como ficou meu Top 5, pra quem por um acaso queira saber.

uma tentativa de árvore de livros que deu muito errado e virou apenas uma bagunça


n° 5: O Jardim do Éden - Ernest Hemingway
Amo. Este. Homem. Comprei uma cacetada de livros dele esse ano, muito embora tenha lido apenas dois (sendo um deles um dos piores livros que eu li no ano) (O Verão Perigoso), mas não é desse que eu quero falar, é do Jardim do Éden. Eu não sei como este homem faz, mas com pouquíssimas palavras ele consegue te colocar pra viajar no tempo e no espaço sem que você entenda direito o que tá acontecendo por ali. Eu nunca tenho 100% de certeza se eu compreendo tudo que tá acontecendo no meio daquelas palavras, mas compreendo o suficiente pra amar o jeito que ele escreve. Os diálogos! São ótimos nesse livro porque eles são um pouco desconexos, igual uma conversa na vida real.
Além disso, tem aquela coisa que é minha coisa preferida em tudo que o Hemingway escreve, ele leva esse lance de escrever muito a sério. E eu queria ser como ele, então sempre que leio as coisas que ele escreveu eu me sinto um pouco mais ~inspirada~ a ser.



n°4: Nove Plantas do Desejo e a Flor de Estufa - Margot Berwin
Comprei esse livro por R$5,00 na Bienal, logo, estava esperando muito pouco dele. E quebrei a minha cara. Amo quando isso acontece! É o tipo de livro que eu tenho gostado bastante ultimamente que não dá pra você PREVER o que vai acontecer, porque tudo que acontece é extremamente nonsense. E com isso não quero dizer que é um livro de mistério, porque não é, é um romance, mas que DO NADA a protagonista nova-iorquina tá jogada no chão de uma floresta tropical. Outra coisa que eu gostei muito é que ele é um livro com conhecimentos paralelos, que nesse caso são plantas (como sugere o título). Acho legal quando o livro conta mais do que a história, quando ele ~agrega valor~, como dizia o filósofo do camarote.

n°3: Amor em Minúscula - Francesc Miralles
Não sei direito como EXPLICAR o que me prendeu nesse livro, a melhor explicação que eu consigo dar é que foi o ~clima~. É uma coisa muito envolvente assim, que vai além da história que tá se desenrolando no livro. Eu queria MORAR no clima desse livro. Também queria que um gatinho entrasse no meu apartamento no dia do ano novo e mudasse minha vida, como acontece no livro. Ainda tá em tempo! =^.^= Isto é, contando que minha mãe deixasse isso acontecer... Mas voltando ao livro, ele é espanhol. E não sei, desde o ano passado eu tenho lido uns poucos livros espanhóis e amando todos eles. Alguém sabe me explicar sobre isso?!



n°2: The Woman Who Stole my Life - Marian Keyes 
Rainha. Do meu. Universo. Foi uma saga conseguir esse livro e eu terminei de ler semana passada. E ainda não decidi como me sentir a respeito dele. Sei dizer que foi um dos poucos livros que me fizeram chorar esse ano. Mas, por algumas horas, acabou com a minha vida, sei lá, me deu uma sensação muito ruim de que nada valia à pena nessa vida. Não foi legal de sentir isso... O que foi legal no livro foi que mais uma vez ela arreganhou as pernas do mercado editorial na história. Sobre um aspecto muito ruim da vida dos escritores que eu nunca tinha parado pra pensar. O que essa Marian faz que sempre faz a gente pensar sobre coisas que a gente não queria pensar?!
Outra coisa que eu amei nesse livro foi que o amor tá bem em alta, não é sempre que ele está assim nos livros dela. Uma coisa que eu não gostei muito foi que a escrita não está tão interessante quanto é no Chá de Sumiço... Mas agora é torcer pro próximo livro sair logo.



n°1: HELL - Lolita Pille 
O que dizer????????????? O que dizer que não seja um palavrão bem cabeludo?! Eu não sei. Foi um daqueles casos em que você termina o livro já pensando em abrir de volta na primeira página e ler tudo com mais atenção. Essa Lolita escreve de um jeito muito inesperado, meio maluco que logo de cara dá pra ver que ela não é igual as outras escritoras, que naquilo que ela tá escrevendo pode acontecer qualquer coisa. E dá um medo danado?!? A visão dela de mundo é muito interessante assim, nada a ver com a minha, e é a estranheza da visão dela que meio que faz gerar o interesse pelo que ela tem a dizer. Isso também explica porque os personagens dela são tão odiosos, sei lá, acho que é muito difícil se identificar com eles, mas ainda assim o que acontece com eles é fácil de te afetar. Louco! Vai entender!
Fora isso, tem o filme, (e teve a peça!) eu não assisti nenhum dos dois, mas se alguém quiser me dar de Natal ainda tá em tempo!

HELL no teatro aqui no Rio e eu não fui :)

Então, esses foram os meus melhores livros do ano, e o se vocês? Espero que tenha gostado! E que venha um novo ano com novos ótimos livros nas estantes de todos nós <3

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Dezembro Vermelho

Preciso explicar por que o Dezembro é Vermelho? Ho-ho-ho! Acho que não, mas não gosto de perder nem uma oportunidade de falar sobre o Natal, a correria pra deixar tudo pronto e a comilança extra quando chega a hora. Contudo, o assunto desse post não é esse, e sim, de novo, os livros. Já que eles são muito mais interessantes do que qualquer coisa que eu vá comer daqui até o final do ano.
Pois bem! Aí estão os livros vermelhos que eu vou falar um pouquinho hoje, não vou explicar de novo que eu não sou a melhor fotógrafa do mundo porque acho que já deu pra entender. Enfim...



1- O Pequeno Livro do Rock - Hervé Bourhis: É um quadrinho sobre a história do rock, vai desde o início do século passado até 2009 (se eu não me engano). Foi muito legal me envolver com esse livro e de tempos em tempos eu tenho vontade de folheá-lo de novo pra ver o que ele tem a dizer sobre as bandas que eu acabei de conhecer. Outra coisa ótima era me deparar com bandas que eu gosto muito do nada (exemplo: Cansei de Ser Sexy, ARCTIC MONKEYS), além disso, os desenhos do autor são incríveis, o livro é lindo e foi meu fiel companheiro durante 2012 porque foi o livro-tema para eu fazer minha Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na faculdade de Design de Moda. Eu construí toda uma coleção baseada no livro, posso dizer que somos grandes amigos.



2- Da Boca pra Dentro - Yohana Sanfer: A Yohana é minha amiga, conterrânea e talentosíssima. Orgulho gonçalense! Ela escreve de um jeito muito envolvente que até quem não é muito chegado a crônica se vê envolvido por suas palavras. Ainda por cima, o livro dela tem uma diagramação tão linda que dá vontade de tirar fotos de algumas páginas, coisa que vem acontecendo por aí o tempo todo nessa tal de internet, é só jogar no Google (ou no instagram). Mas voltando às crônicas... Todas tem um tom doce e às vezes lúdico, muito embora ela sempre esteja falando sobre coisas reais, sobre cotidiano, e coisas que acontecem com ela. E estou aqui aguardando a próxima coletânea.



3- Tasha Harris Abre o Jogo - Jane Green: Eu amo esse livro, já emprestei pra todo mundo que se dispôs a ler e comentar comigo, mas faz tanto tempo que eu li que eu não consigo LEMBRAR a causa de tanto amor. Acho que a narrativa era bem leve e irônica no estilo Bridget Jones, até as capas se parecem. E, fora isso, ela fala diretamente com o leitor no estilo senta-aí-que-vou-te-contar-minha-história, estratégia que funciona muito bem comigo, tanto funciona que até hoje eu guardo o livro com o maior carinho, mesmo que eu não me lembre o que exatamente acontece nele.

Hemingway e Gertrude num papo sincero em Meia-Noite em Paris
4- Paris França - Gertrude Stein: Eu me apaixonei por esse livro há três anos atrás, escondida, espiando os livros que a professora tinha trazido pra biblioteca. Eu tinha acabado de ver Meia-Noite em Paris e professora foi contando sobre a vida da autora e eu saquei que ela era a dona da casa que aparece no filme, me senti muito inteligente por isso. Sendo que eu só consegui lê-lo esse ano, quando ganhei de aniversário da minha melhor amiga. E ao invés de eu explicar o porquê de eu ter gostado tanto do livro, vou transcrever o pedaço que me fez me apaixonar. Acho que é o primeiro capítulo mais ~quotável~ desde Lolita. Vamos lá:
"Eu tinha apenas quatro anos na primeira vez que estive em Paris e falei francês ali e fui fotografada para a escola ali e tomei sopa no café da manhã e almoce pernil de carneiro com espinafre, sempre gostei de espinafre, e um gato preto pulou nas costas da minha mãe. Isto foi mais excitante do que calmo. Os gatos não me incomodam mas não gosto que pulem nas minhas costas" (STEIN, Gertrude)



5- O Diário de Bridget Jones - Helen Fielding: Não CONSIGO ficar um ano sem falar da Bridget que agora ando chamando de Brigita! A mãe do chick-lit merece todo o meu respeito e admiração. Esse é outro dos livros que eu faço questão de emprestar pra todo mundo que quiser ler (pode pedir, gente!). Eu adoro o jeito que ela conta tudo igual você conta pra sua amiga, cheia de exclamações!!!!!!!!!!!!! LISTAS! Opiniões imparciais que você só vai descobrindo que não são exatamente verdade ao longo do livro... A personagem que não é perfeita e aí está o encanto dela, essas coisas que todo mundo sabe da Brigita porque provavelmente já deve ter lido o livro, ou, pelo menos, visto o filme.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Papel, Caneta e Ação

Eu sou tão last week! O livro saiu semana passada na Amazon e só agora eu estou me dignando a fazer um post pra falar as curiosidades sobre ele. Vergonha de mim... Mas, sem perder tempo - até porque com tão poucos dias restantes para 2014 acabar, não há tempo para se perder - vamos direto ao ponto.

"Papel, Caneta e Ação" nasceu da minha junção com a Clara Savelli e a Thati Machado num mesmo espaço-tempo, o que é a mesma coisa que: PERIGO! Nós queríamos fazer algo legal para celebrar o fim desse ano que foi tão especial pra gente (nós três publicamos os nossos primeiros livros!!!!!!1), mas então ficamos pensando que ao invés de falar sobre Natal, era melhor optarmos por uma história (ou melhor, TRÊS) de Ano Novo, por óbvios motivos de altas expectativas para o ano que vem.Oremos!
Então criamos três personagens: Cindy, Lucy e Ana Luna -a  ilustradora, a escritora e a atriz - que por causa de um livro têm seus destinos cruzados e embolado em três contos com romance, superação e bom humor. O livro está à venda em forma de ebook na Amazon e custa apenas R$3,00!




Essa parte, acho que vocês já sabem, basta conhecer uma de nós três que já deve ter ouvido algum eco dos gritos que a gente tem dado sobre o livro nas redes sociais. E esse post é apenas mais um desses gritos, um grito com curiosidade sobre os contos e quotes tortinhos que eu desenhei no meu caderno e a Clara no dela.



Curiosidade n°1: A Cindy, personagem do conto "Num Papel Passado", nasceu no livro "Pela Janela Indiscreta" (meu livro!) e a personagem principal de PJI, a Louise, está presente no conto como coadjuvante assim como a Cindy é personagem secundária na Janela.



Curiosidade n°2: O conto da Lucy "xxx" que foi escrito pela Cara Savelli foi escrito quando a autora tinha 16 anos (prodígio!) e só foi necessário revisar e mudar alguns detalhes pra fazer as três personagens se encaixarem.



Curiosidade n°3: A capa do livro foi feita pela Thati Machado, autora do conto "Finalmente... Ação!"

Por fim, quero agradecer a todos que foram espertinhos e já leram! E aos fofinhos que elogiaram, tenham certeza que vocês colaboraram com o Feliz Natal dessas três escritoras.
Obrigada!

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Novembro Azul

Até quem é morto às vezes aparece!, é o que eu ando falando por aí. Logo, cá estou com uma ideia nova.
Depois do Outubro Rosa, pensei que o novembro poderia ser azul, porque por uma estranha coincidência, a maioria dos meus livros preferidos são dessa cor. Devo estar muito antenada com o inconsciente coletivo já que fontes seguras me disseram que de fato existe essa campanha de Novembro Azul para conscientização do exame de próstata, por isso: atenção, meninos! Mas de volta aos livros...
instagram

Os meus livrinhos da vez são esses. E digo que alguns tiveram que ficar de fora, mas quem sabe no ano que vem? Se minha ideia funcionar até o final... Vou começar a falar da minha pilha falando de baixo pra cima.

1) The Brightest Star in the Sky - Marian Keyes (A Estrela Mais Brilhante do Céu aqui no Brasil):
A Marian Keyes é minha autora preferida no mundo inteiro, então é TÃO COMPLICADO escolher um livro preferido dela - já foi difícil ter que escolher só um livro azul dela -, mas com certeza A Estrela Mais Brilhante tá no top 5. Esse livro é daqueles que têm várias histórias acontecendo ao mesmo tempo e todas são concentradas no mesmo prédio e deixa a pessoa sempre na expectativa de saber quando é que as histórias dos diferentes apartamentos vão se cruzar. Elas se cruzam toda hora e é tão engraçado às vezes, às vezes tão triste, naquele jeitinho Marian Keyes de ser com uma narração intrigante demais, não sei da onde essa mulher tira essas ideias.  

2) Something Blue - Emily Giffin (Presentes da Vida na tradução daqui)
O Something Blue foi o primeiro livro que eu li da Emily Giffin na vida e eu fiquei meio que sem entender no que ele se classificava. Era chick-lit? Era romance? A personagem principal é tudo que se espera de uma heroína de chick-lit, mas a Emily escreve as coisa de um jeito muito dela de analisar as coisas, isso eu fui percebendo ao longo dos outros livros que eu li dela, nunca vi ninguém descrever sentimentos tão bem quanto ela, parece que ela entra dentro do coração de pessoa. Que coisa! Foi o melhor livro que eu comprei pela capa (que é maravilhosa) e o título também ajudou muito, porém não aconselho ninguém que quer começar a ler a Emily a começar pelo Something Blue, pois ele é o segundo da série (que começa com Something Borrowed - "O Noivo da Minha Melhor Amiga", que virou filme) e os personagens são os mesmos, pra quem se lembra.
E a boa notícia é que o Something Blue vai virar filme também.

3) Pela Janela Indicreta - Aimee Oliveira (yo)
O que dizer sobre meu próprio livro?! Ele é azul e eu não consegui deixá-lo de fora dessa, desculpem o merchan pra quem já leu. Fora isso, eu não sei muito bem o que falar sobre ele. Sei que ele foi divertido de escrever e a intenção é de que todos se divirtam lendo. É uma narrativa que eu sentia falta como leitora, que é a da primeira pessoa masculina. Foi a minha tentativa de pensar como homem já que eu vivia cercada por eles. Ao mesmo tempo que não quis deixar de lado as minhas indecisões e inseguranças de ser uma mulher de libra como Louise, a vizinha stalkeada via-janela.

4) Lolita - Vladmir Nabokov
LO-LI-TA. Eu já tinha ouvido falar tanto nele antes de ler. Nos filmes, nas músicas, nos ensaios fotográficos pras revistas de moda... Chegou uma hora que eu tive que ler nem que fosse pra achar uma merda depois. Mas acontece que eu não achei, ele virou meu livro favorito. Quebrar a cara: minha especialidade.
Sim, concordo que a história é brutal e eu entendo quem não consegue terminar de ler porque fica com ânsia, mas eu fiquei viciada demais no jeito como o cara escreve pra parar. Por mais que o conteúdo seja pesado, ele escreve de um jeito que às vezes chega a ser engraçado. Pode até ser um pouco doentio, mas eu achei lindo. Pra mim foi a história de um amor errado, que não era pra acontecer.E que ruim que aconteceu.

5) O Casaco de Marx - Peter Stallybrass
Tenho a ligeira impressão de que eu já falei desse livro aqui, mas vou repetir simplesmente porque merece. É um livro sobre os diferentes valores que as roupas tem, seja de memória, de afeto e até mesmo de dinheiro. Comigo falando assim pode parecer um papo chato de estudante de moda, mas não é, juro. Ele vai falando sobre as indas e vindas do casaco de Marx para a loja de penhor enquanto ele estava escrevendo "O Capital" e não tinha dinheiro nem pra comprar papel pra escrever o livro que hoje qualquer estudante de finanças deveria ler. Mas a mensagem final que ficou pra mim foi a de perseverar no seu trabalho independente das dificuldades que se apresentam. Meio que acreditar no que você faz e do resto correr atrás, numa rima boba.

Pois bem, esses foram os meus livros azuis e já estou pensando em outra cor pro mês que vem.Se quiserem seguir essa onda e mandar seus livros azuis pra mim eu vou amar <3 Comentários, sugestões e possíveis surtos são muito bem vindos por motivos de estar meio lost nesse mundo de blog.
Beijos!

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Temos o tique, cadê o outro?



Aquele barulho que o relógio faz. Como é mesmo o nome? Não tenho tempo pra essas palhaçadas, posso até procurar no Google, mas minha bateria tá quase no fim. Vive quase no fim. Igual a metade vazia do copo do pessimismo. Só que não era disso que eu queria falar.
Sabe quando você se esquece de respirar?! Dá um negócio estranho, sendo que você nem percebe. O que eu ia fazer mesmo?  Você tenta lembrar. Não lembra por nada e volta a fazer suas coisas. Que horas são?! Tá um trânsito danado. Vou chegar atrasado. De novo. Como é que as pessoas fazem para chegar na hora? O meu ponto é o próximo depois desse, mas até lá...
Tenho que atravessar um mar de gente, antes fosse um marzão de água mesmo, eu não me importo em me molhar. As pessoas andam tão duras e cheias de postura que é ruim passar por elas. Ruim pra mim que tenho lá minhas durezas. Acho que a cidade me tirou a ternura.

O profeta disse que gentileza gera gentileza, mas ele falou alguma coisa sobre o tempo? Se ele falou, não ficou famoso, se não ficou famoso eu não sei. O que eu quero mesmo saber é: como é aquele barulho que o relógio faz?! Ah, exato! Tac. O ônibus parou. Vamos para o ataque.   

postado anteriormente em: http://nandscampos.blogspot.com.br 

domingo, 18 de maio de 2014

Mocassins e All Stars, Clara Savelli

Não adianta eu falar que não é porque é o livro da Clara que eu vou fazer essa resenha aqui, porque é justamente por isso mesmo. Ela é da mesma editora que eu, logo, minha companheira de jornada, parceira de andanças no Centro da cidade e janela aberta pra qualquer eventual surto que surgir  nessa última pré-lançamento dos nossos livros. E por todas essas razões eu vou fazer a resenha, fora isso, tem a razão do livro ser maravilhoso.

instagram

Bom. Fazia muito mesmo tempo que eu não lia um romance adolescente e foi bom voltar às origens. Logo nas primeiras páginas eu fui sugada pra atmosfera do livro, parecia que eu tava lá naquela escola só observando a personagem principal, Julie, se adaptando na sua nova vida. A Clara escreve de um jeito muito claro, esse trocadilho foi péssimo, mas é a pura verdade. É muito fácil ler e visualizar o que ela tá escrevendo, o que tá acontecendo e se colocar no lugar da Julie, ainda que, algumas vezes, eu não me identificasse com a situação que ela estava passando, nem com as atitudes que ela tomava. Porém, nada mais justo, eu não estou mais na escola, não moro na Califórnia nem muito menos nasci em Nova York. Eu bem que queria...
Aliás, essa foi uma das partes que eu mais gostei, mas não sei se é spoiler demais falar sobre, eu claramente sou nova no ramo das resenhas, então vamos nos contentar em dizer que: Mocassins e All Stars tem uma abrangência geográfica muito boa. Não sei se foi um elogio equivalente ao tanto que eu gostei disso, mas fiz o que pude.
Uma das coisas que me agradaram bastante é que o foco foi BEM no romance, coisa que as vezes os romances adolescentes deixam meio que difuso no meio de tantos amigos/rotinas escolares/competições estudantis/etc.
Outra coisa que eu tenho pra falar é que eu gostei muito dos personagens masculinos, o Arthur, que é o mocinho, acredito que tenha sido paixão universal, mas os outros também deu para desenvolver uma quedinha ao longo da história também. Achei todos ele meio imprevisíveis e eu não sabia exatamente o que eles iriam fazer, coisa que eu gosto, coisa que me prende ao livro.
Em suma, achei uma leitura leve e agradável, dessas que dá pra engolir em poucos dias. Sendo que eu não engoli, li sem pressa, já de caso pensado em fazer essa resenha e prestando atenção nos detalhes. Pra quem gosta de romance adolescente/Meg Cabot/All Stars/baile de formatura/protagonistas atrapalhadas tá mais que indicado.

mais um integrante da bagunça chamada minha estante


Quem gostou do livro, saiba a sinopse, resenhas e outras informações em:
SKOOB | Page | Site

E por último, sendo que é o mais importante, o lançamento de Mocassins e All Stars junto com o meu livro, Pela Janela Indiscreta (mais infos sobre PJI), será semana que vem 25/05, domingo, em Botafogo, Rio de Janeiro. Vou deixar o link do evento logo abaixo, sempre lembrando que todos os seres humanos da face da terra interessados em leitura estão convidados. Sem querer parecer desesperada, apenas educada, rs.
Lançamento dos livros "Mocassins e All Stars" e "Pela Janela Indiscreta"

chega 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Melhor Coisa do Mundo Mundial: Feira de Livros na Cinelândia

Tava mais do que na hora de eu colocar alguma coisa de útil nesse blog que não fosse minhas reclamações chorosas sobre a vida. Aí eu esbarrei com a Feirinha de Livros da Cinelândia!!!!!!! Pensei: tem que ser um sinal. Então decidi que era a melhor coisa pra começar essa série de "Melhores Coisas do Mundo Mundial" que, em outras palavras, são minhas atividades preferidas de ver/fazer/ler/etc que eu ainda não decidi.
Feiras do livro em geral é um negócio que balança minhas estruturas e essa da Cinelândia em especial: 1) porque é perto, 2) porque é barata. Eu descobri no ano passado, por um acaso, a existência da feira e tinha uma placa TÃO ENGRAÇADA que eu entrei lá rindo, não dando nada por ela. Óbvio, como já é de costume, eu quebrei a cara e o orçamento. Saí de lá carregada de livros e desesperada pra saber quando, pelo amor de Deus, seria a próxima.

Feira do ano passado, instagram relembrando vidas

Pois bem, a próxima tá acontecendo agora e vai até o dia 22 de maio. Eu não sei o nome REAL da feira, então eu simplesmente inventei que é ~Feirinha de Livros da Cinelândia~ acho que cai superbem e quem tiver a possibilidade de visitar acho que não vai se arrepender. Ou pelo menos o arrependimento não aconteceu comigo.
Pra celebrar a feirinha e aumentar esse post porque eu não sei mais o que falar, pensei em fazer um TOP 5 dos livros de feira que eu mais gostei. Porque pra mim grande parte da graça de comprar esse livros de segunda mão é dar de cara com coisas que você nunca imaginou existir. Às vezes você se dá mal, mas quando se dá bem o resultado é maravilhoso. Acho que é porque eu não tenho muitas expectativas ao redor desses livros que eu nunca ouvi falar, nem sei de onde saiu, só apenas me chamou a atenção e eu levei pra casa num surto de consumo. São por essas e outras que eu vou registrar aqui minhas cinco melhores descobertas:

5- Aquela Idade - Elizabeth Buchan
Da vez que eu comprei esse livro meu surto foi tão grande que eu comprei três dessa mesma autora sem nem nunca ter ouvido falar dela. Eu li dois, falta um, mas já adianto que as histórias dela não são as melhores do mundo. Achei um pouco pacatas pro meu gosto. Porém, o jeito que ela escreve!!! Eu quero escrever igual! Mas plágio é crime, então, eu vou ficar na minha e falar sobre o tal livro, "Aquela Idade" é um daqueles livros de histórias paralelas, eu tenho uma relação muito esquisita com esse tipo de livro porque no geral uma das histórias eu amo e a outra eu tendo a odiar. Foi isso que aconteceu nesse, mas de repente sou só eu que tenho disso.


4- Um Babá em Minha Vida - Holly Peterson
Faz tanto tempo que eu li esse livro que eu não lembro exatamente os detalhes dele, é mais a sensação. E a sensação é ótima! Vão por mim, hahaha (nope). O que eu lembro é que falava dos ricaços de Nova York, tema que eu amo muito, mas era o romance da história que me prendeu tipo prego na história. Talvez eu releia e venha contar coisas mais concretas sobre, talvez isso só aconteça quando eu terminar minha pilha de 28 pra ler, talvez demore um pouco. Mas um dia, quem sabe...



3- Tasha Harris Abre o Jogo - Jane Green
Sinceridade: só comprei porque a capa parecia com O Diário Bridget Jones. Foi um bom método de escolha, o estilo do livro é bem parecido, só não é em forma de diário. Mas é tão engraçado quanto, tão envolvente quanto. Com aquela escrita leve que parece que você tá do lado da personagem e ela tá te contando a história dela de igual pra igual, sabe? Esse livro foi um daqueles que eu queria emprestar pra todo mundo que cruzava o meu caminho, pra que mais pessoas tivessem a chance de ler essa maravilha e poder rir comigo das piadas. Eu acho que lembro de algumas até hoje.

2- Amor em minúscula - Francesc Miralles
Foi o primeiro livro que eu li esse ano, eu continuo completamente infectada pela atmosfera dele. O livro é sobre um gatinho que entra na vida de um cara solitário e a partir daí muda todos os costumes dele. Eu apenas quero um gato pra resolver meus problemas sociais, mas enquanto minha mãe não deixa isso acontecer, vou falar que o livro, além do gato, tem muitas referências boas de outros livros, filmes etc. Ele se passa em Madri e é o segundo livro espanhol que eu leio e é o segundo espanhol que eu me apaixono a ponto de querer morar lá. No livro ou em Madri, tanto faz.

1- De Música Ligeira - Aixa de la Cruz
Eu sei que eu já falei desse livro no post sobre Os Melhores Livros de 2013, mas eu vou ter que falar de novo. Apenas porque ele merece. Esse é o tal primeiro livro espanhol que eu me apaixonei primeiro, ele soube como me agradar, colocou tudo que eu mais gosto no enredo: música, pub irlandês, uns romances confusos que até hoje eu não sei se entendi direito. E também soube como me surpreender com uns textos totalmente aleatórios que vinham no meio da história meio que como notícias que precisavam ser interpretadas pra fazer algum sentido na história. Foi um livro que exigiu um pouco de mim e deixou a desejar só o suficiente pra eu ficar me perguntando: Que raio de história maluca é essa?! Eu amo quando isso acontece!

PS: Minha intenção eram ter fotos bonitas, obviamente eu não consegui. Por motivos de não ter paciência. Vários livros ficaram de fora e mereciam ter aparecido, outros muitos pertencem à essa categoria, mas ainda não foram lidos. Talvez eu faça uma segunda versão dessa lista, talvez eu melhore as fotos nela. Mas talvez seja melhor eu não prometer nada.

sábado, 19 de abril de 2014

BI-BI



E falam que nossa realidade está mais rápida que nunca... Eu nunca demorei tanto pra chegar naquele mesmo lugar. Está tudo parado. Não mudou o caminho, não mudou o transporte, o que mudou, talvez, foram as pessoas. As quantidades, as prioridades, as necessidades de responder para alguém que está do outro lado do mundo que ela está presa num engarrafamento horrível.
Houve uma batida entre um carro e um ônibus, foi isso que aconteceu, o de sempre. A mulher que era a motorista do carro ainda tem o celular na mão, mesmo que tenha sido por conta do celular que ela se distraiu do trânsito e bateu no ônibus que vinha logo atrás. Agora ela está nervosa e precisa falar com alguém que a acalme. Ela não é a única nervosa, nem muito menos a única que está com o celular na mão. Pego o meu retângulo de luz e checo há quantas horas estou nessa viagem que, para começo de conversa, nem sabia que ia ser uma, já vão fazer três.
Todos parecem nervosos. Não posso garantir que todos estejam nervosos por causa da batida, acho que é mais pelo efeito que a batida causou, o trânsito terrível, atrapalhando os planos de todo mundo que se viu encurralado nessa viagem que não tem previsão de acabar, as baterias estão acabando, acredito que assim como eu todos querem chegar em casa.
O meu passatempo nessa viagem não depende de nenhum vendedor ambulante, me contento em encenar na minha cabeça o que cada uma dessas pessoas vai fazer quando chegarem aos seus locais de destino. Será que vão direto para o banho ou ligam o computador primeiro? Antes de mais nada, é preciso colocar os retângulos de luz para carregar, isso sim foi algo que a modernidade trabalhou para encurtar o tempo, isso e a curiosidade par saber como foi que ficaram as fotos.
Mas de volta às pessoas, fico imaginando se elas ainda contam o relatório de como foi o dia para suas pessoas preferidas mesmo quando já mandaram mensagens sobre os acontecimentos ao longo do dia. Se contam, não tem a mesma graça. Pode ser que não contem, pode ser que passem esse tempo online contando para outras pessoas queridas que agora ela está jantando com suas pessoas preferidas no mundo. É importante que o resto do mundo fique informado. Vivemos na era da informação.

BI-BI, o ônibus buzina quando faz uma manobra brusca para trafegar na pista reversa. Não sei quantas leis o motorista está quebrando para se por em movimento nesse trânsito. Sei que fico agradecido. Daqui há três paradas é a minha hora de descer, mas eu não preciso deixar ninguém avisado. Não demora nem cinco minutos para eu ligar o computador e escrever o que eu pensei no ônibus. Quero que todos saibam. 

domingo, 23 de março de 2014

O lado mais colorido de PJI


Pra quem não sabe, o meu livro "Pela Janela Indiscreta" (a.k.a: PJI) que tá prestes a sair, esteve "prestes a sair" há mais ou menos quatro anos. Pra quem já sabe, vou poupar vocês das lamúrias. Até porque, quem acompanha essa novela desde o início já deve estar tão de saco cheio de ouvir sobre quanto eu de esperar o lançamento.
Por isso vou passar logo pra parte de boa de ter um processe de publicação tão longo quanto esse: as várias capas que o livro ganhou!
Eu sou uma pessoa muito indecisa (qualquer semelhança com personagens do livro é mera inspiração de vivência), mas quando tenho minhas preferências, tenho minhas preferências. Estou falando da Beea Moreira, que fez to-das essas opções de capa, uma pessoa com paciência de jó e com um talento de uma salva de aplausos num teatro cheio gritando uhul.
Vejam por vocês mesmos, ~uma imagem vale mais do que mil palavras~. Escritores amam esse ditado, rs.







Existem ainda outras! Com outras combinações de cores e tal. Essas foram apenas as minhas preferidas e até eu me decidi foram dias. Por sorte eu pude contar com a ajuda da própria Beea, da Ilana que foi o anjo que salvou esse livro e da Ana B. no suporte de surtos e idiotices mais à toa. Mas no fim vocês já sabem, the winner was...



Espero que vocês tenham gostado da escolha tanto quanto eu gostei. Desde o início eu tive um feeling de que a capa deveria ser azul, acho que combina com a história (posso estar sendo louca). Leiam e me digam.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Sonhos defumados

O começo do fim



Ela veio para essa cidade para se colocar no mundo. Tinha beleza e planos de ser modelo. O tio do seu vizinho, lá na sua antiga cidadezinha, tinha lhe dado um endereço de alguém com que falar. Seria um bom começo.
Ele vivia nessa cidade, mas queria mudar o mundo inteiro. Tudo ao seu redor parecia bem idiota. As pessoas, a política, o sistema de ensino... Ele pensava nisso enquanto batia a caneta em cima da folha de caderno vazia durante uma aula e outra da faculdade.
Dois dias depois eles se encontraram. Aí foi o começo de tudo. Era uma cidade grande, mesmo assim seus olhares se cruzaram como se fosse aquele tipo de coisa que tinha que acontecer na vida de uma pessoa. Ou de duas. Aconteceu. Trocaram ideias e logo depois fluídos. Foi ótimo.
No dia seguinte, A Protagonista acordou atrasada para a seleção que o amigo do tio do seu vizinho tinha conseguido. Ela ficou nervosa e teve vontade de quebrar coisas. Era tudo sua culpa. Não deveria ter se divertido até tão tarde. O rapaz acordou atordoado pela ressaca e pela percepção de movimento, ainda assim, e sob qualquer circunstância, ele era um bom apaziguador. Tinha seus meios. Fez com que ela respirasse, tomasse algo para olhar a situação sob outro ângulo “Não é o fim mundo. Você é mulher! Sempre vai poder dizer que não está se sentindo bem por conta de problemas femininos e acabar deixando o cara sem graça. Não é isso que vocês sempre fazem?”
“Não sou boa com mentiras.”
“Honestamente, você não está se sentindo bem, está?”
A resposta era não. Sua cabeça doía e seu centro balançava numa sensação de mar. Fortalecida pelo mal estar ela pegou o telefone e fez o que tinha que ser feito, o amigo do tio do seu vizinho agiu conforme o esperado. Permitiu que ela participasse da seleção desde que chegasse lá em meia hora.
O Antagonista, que se manteve ao seu lado durante toda a ligação, viu o quanto ela se agitava com a perspectiva de seu futuro começar em menos de trinta minutos. Com a melhor das intenções resolveu dar a ela outro calmante para caso aparecesse alguma emergência pelo caminho. Apareceu. Do nada, um engarrafamento danado numa rua secundária que ela não sabia o nome nem se era perto. Então ela tomou a pílula com um gole de água, sentiu como se uma pedra viajasse em seu interior. Ela gostava de viajar. Mais controlada, A Protagonista conseguiu chegar a tempo, porém, não foi uma das selecionadas.
“Você não é exatamente o que estamos procurando.”
“Também, pudera!” ela pensava ao se observar no espelho. O que se busca de uma modelo numa seleção, é beleza. E naquele momento ela tinha olheiras, lábios ressecados e um olhar vidrado.
“Haverão outra oportunidades” disse o amigo do tio do seu ex-vizinho “Não há razão para ficar abatida.”
Mas ela não estava abatida, estava acalmada. E muito agradecida por isso. Tanto que antes de voltar para o seu apartamento que seu pai alugou por um mês até que as coisas se acertassem, ela resolveu que iria dar uma passada na casa daquele rapaz para agradecer a hospitalidade e perguntar se, por um acaso, ele não tinha outro comprimidinho daqueles.
Já era ruim o bastante ela ter perdido sua primeira seleção, não ajudaria em nada ela perder a cabeça também. Ele disse que poderia ajudar, se ela não se importasse em esperar quarenta minutos. Ela tinha quarenta minutos, e, aparente, a noite toda. O calmante chegou por um entregador de farmácia. A calma através do rádio. Com uma música antiga com ar de sofisticação que mais tarde nessa mesma noite ela chegou a descobrir a intérprete, mas, que devido às outras práticas noturnas, não ficou retido em sua memória. Assim como tantos outros nomes e eventos a partir de então.
Aquela não foi a última noite que A Antagonista passou naquele apartamentinho aconchegante em Pinheiros. O Protagonista era uma boa companhia para todas as horas, mesmo quando assoberbado de estudos.
“Se você despreza as instituições de ensino, por que perde tanto tempo estudando?”
“Tenho que conhecer o máximo possível do mundo para saber o que vou mudar nele. O estudo é o primeiro passo de um plano muito bem estruturado.”
“Você não tem o semblante de quem anda na trilha de realização do maior plano da sua vida.” A suspeita é confirmada quando suas mãos apertam a tensão nos ombros dele. Uma massagem seria bem-vinda.
“Têm coisas que são difíceis de aprender.”
“Então, você deveria abrir sua mente.”
Em cima do livro ela jogou um saquinho com erva. Lembrança de casa. E mesmo tendo maconha nas letras da sua página, O Protagonista teve a sensação de ver tudo mais nítido. Era hora de deixar um pouco de lado a teoria das Ciências Sociais para socializar de verdade.
Ele quis saber da Antagonista desde quando e com que frequência ela fumava. Algumas vezes ele pensava se tinha sido ele quem lhe apresentou essa a rota de fuga. Alguns viam o costume com maus olhos e ele não queria ser má influência para ninguém. Contudo, a resposta dela foi tão tranquilizadora quanto um trago, “Acho que é muito importante experimentar de tudo pelo menos uma vez. É assim que eu formo meus conceitos. Pra mim é a forma mais autêntica”.
Mas tudo na sua cidadezinha de interior era quase nada. De modo que já experimentara maconha quatro vezes, mesmo que o alvo da sua maior curiosidade ainda fosse o cigarro. De menta.
Quem cultivava a erva era seu antigo vizinho. Numa plantação modesta apenas para fins pessoais e amigos. Ela era uma grande amiga, por isso antes de partir o ex-vizinho ensacou cinquenta gramas daquilo que tinha de melhor. Caso ela estivesse precisada de um consolo com toque de outra dimensão. No momento, ela achava que quem precisava desse tipo de consolo era O Protagonista, então fez pra ele o mais lindo dos baseados que fez na vida. Se isso não fosse uma declaração de sentimentos, ela não sabia mais o que era.
Fumaram juntos como todas as outras coisas que andavam fazendo. Sentados no chão da sala, passavam de um para o outro. De início suas mãos colidiam com espasmos de uma sensação agradável. Pouco tempo depois todo o resto colidiu.
Não dava para diferenciar, sob o efeito da droga, se aquela sensação fazia parte da própria onda ou a incandescência de uma atração recém descoberta. Ou até mesmo algo maior, amor ou uma coisa dessas. Nenhum dos dois conseguiria dizer, só estavam de acordo que independente do que fosse, era algo bom.

O meio do fim

Um mês se passou e nada da menina conseguir um trabalho. Então, teve que desocupar o apartamento que seu pai alugou. Não que ela ficasse muito por lá. Assim teve um motivo para ficar de vez no apartamento do rapaz. Há males que vem para o bem, seu pai dizia muito isso e ele sempre estava certo. Ia ser melhor assim.
Por outro lado, talvez as coisas melhorassem logo. A falta de dinheiro é um mal que assola pessoas em todas as cidades do mundo, grandes e pequenas, mas tinha uma solução muito simples: Dinheiro.
Ela tinha um teste esta tarde. E, para variar, estava se sentindo confiante dessa vez. Não tomou nada além de água. Dormiu nove horas seguidas. Maquiou-se tão bem que nem dava para perceber que era maquiagem. Sorriu para o espelho. O sorriso refletiu em seus olhos. Sinal de boa sorte.
Adivinhar sinais não é o que se pode chamar de ciência exata. Só que quando A Protagonista interpretava um sinal, ela geralmente acertava. Foi assim que ela conseguiu sua primeira seleção. E ganhou uma bolada.
Eles tinham que comemorar, pelo caminho ela pensou em maneiras. Nenhuma delas chegou perto da efusão do abraço dele quando recebeu a notícia. Ninguém nunca tinha ficado tão feliz por ela. Ela tinha, é claro, o amor incondicional de seus pais, mesmo que nesse quesito eles não a apoiassem completamente, na verdade, nem sequer a entendia. Mas aquele rapaz que a esmagava, fazia tudo por ela apesar das condições. Nunca aceite nada de estranhos. Um passo de cada vez. Azar no amor. Nada disso fazia parte do que eles tinham.
Ela sentia a necessidade de retribuir a felicidade que encontrava nele, por isso trouxe da rua um saquinho repleto de Felicidades Instantâneas para incrementar as comemorações.
O Protagonista não tinha como deixá-la mais próxima de si do que ela já estava. Ainda assim, ele queria mais. Compreendia a magnitude do alívio que ela deveria estar sentindo, pois sua própria vida era baseada na procura dessa sensação. Raramente ele alcançava. Mas saber da capacidade dela em fazer as coisas acontecerem tão rápido lhe dava uma satisfação que ia além das palavras. O dinheiro ajudaria, e não era só isso, o principal era ela estar no caminho exato que escolheu para sua vida. Deveria ser uma felicidade que nem o melhor Saquinho de Felicidade Instantânea poderia trazer. Pois primeira felicidade nascia no presente e se estendia até o futuro com uma promessa de progresso, já a felicidade ensacada agia no momento e borrava o sentimento quando ele se tornava passado, adiando as dores para o futuro.
Fora as inúmeras razões de sua felicidade. Contudo, O Protagonista não conseguia evitar em meio a todos os bons sentimentos, a constatação de que a vitória dela funcionava como uma nota-lembrete de seu próprio fracasso. Ou falta de progresso. O que era um pensamento horrível! Embora comum a muitos. Ele não era como todos. Por isso tentava afogar tais pensamentos ao trazer a menina para ainda mais perto.
O Protagonista tinha uma mente brilhante e todos sabiam disso. Seus vizinhos e amigos o observavam com admiração e sempre à espera de qual seria seu próximo feito. Cursava duas faculdades, uma com bolsa integral na melhor faculdade de Relações Internacionais de São Paulo. A família ficava orgulhosa de dar todo o suporte. A mãe alimentava esperanças de ele se tornar o Presidente da República, ele certamente tinha potencial, mas seu pai preferia manter suas expectativas mais humildes; se contentaria com um cargo no Ministério.  
Viver sob o holofote de tanta atenção era o que deixava o protagonista tão angustiado em primeiro lugar; logo depois vinha o medo de suas certezas se tornarem incertas. Como daquela vez que ele pensou que o amor era lindo e teve seu coração partido. Aí estava um dos temas em que sua opinião mudava de tempos em tempos. Como ele poderia esperar que o resto das suas outras convicções se perpetuasse? De vez em quando ele pensava que o único mundo que ele mudaria seria o dele. Para pior. Às vezes ele se cobrava demais.
Tinha horas em que sua cabeça saia de controle e entrava numa cadeia de pensamentos que se deixados correndo soltos, tinham potencial destrutivos. A maneira mais eficaz de interromper o processo era se dopar. Foi praticando consigo mesmo que ele se aprimorou na arte de apaziguar e uma vez apaziguado ele poderia voltar sem problemas aos seus estudos.
Não era assim que a arte funcionava para A Antagonista. Aí morava a grande divergência dos dois. Enquanto para ele tudo servia para remediar momentaneamente suas angustias irremediáveis, com ela era outra história.
“Vamos nos divertir agora ou deixamos para outro dia?”
Ela balançava o saquinho de um lado para o outro como o pêndulo de um relógio antiquado. O tempo passava rápido, mas nunca era tarde demais para se divertir. A mensagem da menina, apesar de simples, foi uma grande realização, a qual ele reagiu instintivamente ao arrancar o pacotinho das mãos dela e separar o conteúdo em carreiras. Era hora de dar uma pausa nos questionamentos sobre quanto tempo falta para chegar naquele lugar em que ele nunca esteve.   
Para A Vilã não tinha nada melhor do que estar fora de si e com ele dentro. Teve a impressão de que esteve assim por dias. E que poderia ficar para sempre. No entanto, não podia confiar na sua percepção, ela andou muito distorcida. Tampouco queria perguntar ao rapaz, pois ele tinha entrado em outro ciclo de culpa.
“Agora que você já provou de tudo ao menos uma vez espero que esteja feliz com seus conceitos. Porque temos que parar. Já chega. São tempos de concentração.”
Em Tempos de Concentração tudo incomodava o rapaz, coisa que atrapalhava o objetivo da menina de se manter relaxada sempre. Preocupação gera rugas e ninguém contrata uma modelo toda enrugada. Não que ela estivesse preocupada, na verdade, naquele momento ela não tinha nada além de drogas na cabeça. Mas era um incômodo ele pensar que tinha responsabilidade pela loucura dela. Era inegável que o rapaz tinha aberto as portas para um novo mundo de lugares e substâncias, contudo, a decisão de cruzar tais portões foi inteiramente dela. E se ela quis continuar a viagem, foi porque achou boa. Sentia que naquela euforia era o seu lugar. Ou por um acaso o objetivo da vida não era a felicidade? Ela era feliz assim. Agora que eles tinham provado tudo o que estava ao alcance deles, ela ainda não tinha vontade de parar. Foi como ele disse, algumas coisas são complicadas de aprender. Ela queria formar mais conceitos. Precisava de mais.
Eram tempos difíceis para a concentração. O rapaz acreditava que o estudo era uma questão de hábito. Que ele tinha perdido. E o retorno é sempre mais difícil que a saída. Sua cadeira começou a funcionar como um assento ejetor o qual ele não conseguia ficar muito. Grande parte das tardes ele caminhava de um lado para o outro do apartamento, que não tinha muito espaço para desencaminhar suas impaciências, então ele ia andar na rua, o que só piorava, pois pessoas felizes e apressadas andavam por todas as direções. Elas estavam todas indo para algum lugar. Ele estava a esmo.
Não se tratava só de dar contar de duas faculdades, a bolsa de estudos também precisava ser mantida. E fora as obrigações, estudar para ele costumava ser uma renovação em seu repertório de objetivos, mais ou menos como ele ouvia dizer que certos escritores tinham ideias para suas histórias lendo outros livros. Apenas por manter a engrenagem da imaginação funcionando. É o movimento que impulsiona o movimento. O Protagonista começou a se indagar se a sua engrenagem não estava com defeito.
“Ficar nervoso desse jeito não vai te levar a lugar nenhum” a menina dizia toda vez que ele voltava das suas andanças com o olhar desvairado. O pior é que ela estava certa. Por mais que ele quisesse sentar na cadeira e tatuar assuntos e conteúdos na sua cabeça, não conseguiria e sabia que não conseguiria. A cabeça já estava cheia com outras coisas e precisava ser esvaziada. “Tenho que relaxar” declarava o rapaz ao ir buscar dos materiais necessários.
Estudar deixou de ser uma motivação para se tornar uma preocupação. A partir de então, ele se sentava na cadeira e ser primeiro pensamento era sobre quanto tempo demoraria até ele não agüentar mais e precisar relaxar. Os minutos se tornavam cada vez menores.

O fim

Outro mês se passou sem que A Protagonista conseguisse outro trabalho. Coisa que não entrava na sua cabeça já que tinha perdido três quilos. Era para ter sido um sinal de sorte. Ela não poderia estar mais errada. O Antagonista fez com que eles se mudassem para um apartamento menor e mais afastado, portanto mais barato. O dinheiro que os pais dele mandavam não dava para pagar o aluguel e tudo o que eles precisavam durante o mês. Eles precisavam cada vez de mais e ele era inteligente o suficiente para não criar dívidas. Além do mais, o mercado imobiliário vivia em constante aumento de taxas e não era justo eles que sacrificassem o modo de vida deles só para poder viver em um lugar decente. Os dois ficariam bem em qualquer lugar desde que estivessem juntos.
Uma semana depois da mudança ele perdeu a bolsa na faculdade de Relações Internacionais. A Protagonista tentou consolá-lo com palavras e ações, nada deu muito certo. Mas ele não ficou tão triste depois de terminar de esfregar o pó na gengiva.
Como já tinha dado errado ele não precisava perder mais seu tempo se preocupando sobre alguma coisa dar errado. Começava a ver as coisas pelo lado bom. Também diminuiria um ônibus xexelento em seu percurso diário. Brindou a isso.
Eventualmente o rapaz errava a mão nas doses e passava mal. Como aconteceu nesse dia. Sorte a dele que A Protagonista era mais cuidadosa e poder ficar vinte e quatro horas à disposição.
Em dias seguintes a esses infortúnios ele acordava desorientado com a dúvida se está morto ou vivo. Sua primeira reação inteligente é investigar algo ou alguém conhecido. Dessa vez ele estava num buraco e quase não reconheceu a menina deitada perto dele. O corpo que tinha sido esguio agora tendia para o esquálido, o rosto se contorcia num provável pesadelo. Apresentava as feições gastas, não por ação do tempo, por algo mais mórbido.
Ela nunca conseguiria outro trabalho como modelo. Mas ele a amava mesmo assim. Mais assim. Do mesmo jeito que ela o amava independente de ele ser inteligente ou estar ficando tão idiota quanto aqueles que ele desprezava.
O resto que sobrou do seu intelecto o impedia de falar as palavras que rondavam sua cabeça. Até porque, seu conhecimento indicava que sempre que ditas, tais palavras tinham o efeito reverso. De qualquer forma, sua mente ecoava um “Vamos ficar juntos até o fim” que ao olhar para A Protagonista adormecida ele notou que o fim não estava longe.
Pegou a menina do chão a colocou em cima da cama de solteiro, onde ambos deveriam estar dormindo, ainda era noite. No meio do caminho os olhos dela se entreabriram e estavam vermelhos, ela passou a mão pela testa dele como quem checa a temperatura de uma criança. Para ver se está tudo certo. Logo ela voltou a pegar no sono e ele voltou a pensar. Nada importava muito agora, tudo já tinha meio que acabado. Antes mesmo de virarem cinzas seus sonhos viraram fumaça, numa perfeita ordem de combustão.
Em resumo, eles encontraram o amor. E perderam todo o resto.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

todo mundo ama fazer carta

we♥it


Todo mundo ama fazer carta, então decidi que eu vou fazer a minha. Quero ser legal também. Pego papel e a folha de caderno mais bonita que tenho – é da Hello Kitty  arranco com cuidado, pois não quero nenhum rasgo nas laterais essa carta tem que ser perfeita. Igual a de todo mundo.

Escrevo um nome qualquer, essas cartas sempre tem um destinatário difuso e o meu é um tal de Cher Antoine, que sempre colocava nas minhas redações quando eu era obrigada a fazer qualquer epístola que nunca chegaria ao seu destino. Eu odiava essa história e aposto que Cher Antoine concordava comigo. Aí começo a me perguntar se essas cartas que todo mundo anda escrevendo por aí pra que o resto do mundo saiba de forma tão íntima o sentimento – real ou fictício – do escritor, tampouco chegam aos seus destinos. 

Na verdade, minha principal dúvida é se elas sequer são enviadas.
Fui ao correio esses dias, tinha que enviar uma coisa. À minha frente muita gente tinha coisas para enviar, nenhuma dessas coisas eram cartas, quem não tinha coisa, tinha contas, quem não tinha nenhum dos dois tinha alguma coisa para pegar. Do nada avistei um homem com envelope na mão, ele estava bem concentrado no pedaço de papel, devia ter muitos sentimentos contidos ali dentro. Não havia jeito de eu saber se ele era um escritor de cartas a não ser que eu perguntasse. E foi isso mesmo que eu fiz. Ele me olhou incrédulo e depois preocupado, eu fiquei lá parada esperando uma resposta e seria de mau tom se ele não me respondesse.

- É um documento - ele falou à contra gosto enfiando o envelope dentro de uma pasta, acho que ele pensou que eu iria roubá-lo. Mas eu sou honesta.

Voltando ao desenvolvimento da minha carta, eu coloquei nela palavras muito bonitas. Eu falei de "amor" e sobre "abrir/fechar meu coração", aparentemente nessas cartas o coração funciona como um baú. Tipo aqueles que guardam as cartas nas fotos de cores pasteis que acompanham os textos de cartas que são escritos em letras serifadas. Tudo isso é muito confuso. Meu coração não funciona como um baú.

Mais ou menos nessa hora eu parei e pensei: Seria muito mais fácil mandar um email! Ninguém me manda emails sentimentais! Tudo que eu recebo é propaganda, arquivos ou vírus. Ok, assumo que gosto das propagandas, geralmente elas são promoções de livros. Eu acabo me maravilhando com os preços baixos das coisas que eu não preciso, mas acabo que compro. E perco o meu foco. Toda vez que entro no email tenho uma esperançazinha de que alguém tenha falado comigo, raramente alguém fala. Suponho que todos estejam muito ocupados escrevendo suas cartas. 

Por isso que agora eu também estou escrevendo a minha, ela tem letra bonita e tomara que todo mundo me ache muito sensível no final. O que todo mundo vai achar é de grande importância em cartas desse tipo, não importa quem é o destinatário, nem mesmo importa o que eu penso. Se é que penso. O bacana é o resto do mundo gostar e dizer como eu escrevo bem.

Antes de eu terminar a carta eu paro e penso. Qual é o objetivo disso? É meio que um teste de quão profunda ou rasa eu sou?! Me soa meio bobo. E se eu dissesse que não me importa o que os outros pensam? Não seria muito original, não é? Então é melhor não dizer nada, apenas pego a carta e rasgo em mil pedacinhos e logo depois jogo pro alto. A sensação é maravilhosa. 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

tempos de vacas magras

we♥it

Tem aquela cena do seu filme preferido que de tempos em tempos você põe pra repetir, algumas horas são no DVD, outras na sua cabeça, mas ela nunca deixa de passar. Isto é, de tempos em tempos. A minha cena do filme preferido na verdade se tornou a minha vida. Minha vida no passado. Lá tá frio e eu tô meio que deitada na minha cama tranquilíssima com meu edredom bang on the door, em cima de mim mora o meu computador porque eu tô escrevendo o último capítulo da minha segunda história. Treze páginas numa tacada só. Boom!, temos um recorde. Que hoje, quatro anos depois não foi quebrado. Não vejo nada de errado em querer viver/viver voltando nisso de novo. Mas alguma coisa não tá certa.
Nostalgia é algo tão bom. Todo mundo gosta de dar uma volta no passado e geralmente o resultado é benéfico. Mas é no resultado fora do geral que eu me encontro. Simples assim: minha vida está parada e minha cabeça só consegue olhar pra trás. Uma pessoa que anda olhando pra trás tem grandes chances de tropeçar, cair e entrar um farpa no olho. Então eu continuo parada, preferindo evitar a fadiga.
São os tempos das vacas magras, a vida passa diante dos meus olhos e tudo o que eu faço é aplaudir. Nem mesmo meus projetos de escrita estão vingando nesse "tempo que eu tirei pra escrever". Me pergunto que merda é essa que eu tô fazendo. Espero pelas respostas.
Perceber esse movimento ou falta de não muda nada, já dizia Alex Turner em No Buses com "...realize that it won't change a thing", ele falou bem e bonito como sempre. Eu posso muito bem continuar sentada aqui, sem escrever nem perto de treze páginas, mas pelo menos fiz esse post.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

POP!



Um dia qualquer

Num mundo cheio de pontos de vista privilegiados, eu não estou exatamente satisfeita com o meu, ainda assim, parada aonde sempre fico, consigo ver uma coisa ou outra que acho interessante, ou pelo menos me diverte. 
- Doce ou salgada?
- Doce ou salgada? – o homem à minha frente perguntar pra mulher ao seu lado.
- Escolhe você.
- Escolhe você – ele rebate.
- Foi você quem me convidou.
- Foi você a convidada, então, escolha.
- Ai, não sei.
- Sabe sim.
- Doce.
- É a minha preferida também.
Entrego um saco médio de pipoca doce para a mulher e tento mascarar um sorriso. Eles são tão tipicamente O Casal no Segundo Encontro que não demorou nem o tempo de aprovar a transação do cartão platinado do cara para eu descobrir qual era a classificação deles. Sei que pode parecer ruim que ao invés de estar colocando milho na máquina, eu fique aqui pensando de forma categórica na vida das pessoas. Mas é o que eu faço. Trabalho no quiosque de pipoca do cinema e daqui gosto de observar todo o tipo de gente.
- Vocês têm manteiga light?
 - Infelizmente não.
- Como assim?!Que absurdo! Vocês tinham que trabalhar com uma opção light.
- A opção mais light que a gente tem é a sem manteiga.
- Você tem permissão para falar comigo dessa maneira? – a menina ruiva vira as costas ultrajada e sai batendo o pé.
Vou pegar uma coca-cola para outro cliente. O liquido pálido, muito mais claro que o original, cai da máquina enquanto eu percebo que não adianta me estressar. O que a menina ruiva disse não foi pessoal. O mau humor tem se tornado uma emoção recorrente até mesmo nos cinemas.
- Aqui vende café?
- Temos expresso.
- Me dá um. Duplo – ele irrompe em um bocejo monstruoso sem se preocupar em por a mão na frente – Talvez seja melhor dois.
Apertei os botões e esperei pelo melhor cheiro do mundo. Pode ser que eu esteja exagerando, mas toda vez que o café se preparava para sair e levava seus costumeiros dois segundos e meio, a expectativa me fazia ter certeza de aquele era o melhor cheiro do mundo. Então ele inundava o quiosque e eu tinha vontade de sorrir. Às vezes eu sorria mesmo. Por exemplo agora.
- Obrigado.
Aquela era a última sessão da noite, então eu comecei a limpar tudo que tinha ao alcance dos meus braços e imaginação até dar a hora de fechar. Acabaram-se as pessoas, com isso começa o tédio.



Uns 27 dias depois do dia qualquer
O fechamento e a abertura do quiosque são as horas mais monótonas pra mim. E hoje, no começo de um novo dia, não é diferente. O cinema abre ao meio dia, só que na maioria das vezes a primeira sessão frequentada é a da casa das duas. São uma e meia.
Eu o trabalho com mais duas pessoas. Elas vêm e vão. Principalmente vão. Mas nesses últimos quatro meses eu tenho trabalhado com um senhorzinho simpático e uma menina espevitada. A única coisa que ambos têm em comum é a paixão por falar de suas respectivas vidas. Um gosto quase que universal entre os funcionários do cinema. Que por alguma razão eu não me enquadro. A verdade é que eu gosto muito de pessoas, porém não sei conviver com elas.
- Me dá um Fanta? Laranja. Bem gelada! Pode encher o copo de gelo, eu não ligo. Sabe, eu sinto tanto calor no verão.
- Acho que todo mundo anda sentindo calor esses dias.
Não era a primeira vez que essa menina vinha aqui, também não era por isso que ela falava demais. Percebi logo de primeira que ela é daquele tipo de pessoa que faz da fala um esporte e é muito boa nele. Quando ela fica quieta dá para prestar atenção nos seus olhos, eles também são cheios de expressão e parecem que vai entrar em ebulição a qualquer momento, como se algo incrível estivesse prestes a acontecer. Então ela começa a falar.
- Menos você, né? Que sorte! Vive aqui nesse ar condicionado estupendo.
- É.
- Melhor Fanta da minha vida! Pior que eu tenho essa sensação toda santa Fanta. É engraçado, não é? Quando alguma coisa repetitiva não deixa de te surpreender.
Ela vai pelo corredor da Sala 2 entre longos goles do liquido laranja e eu sou deixada pensando nas coisas engraçadas da vida. Eu sou calorenta. Tem vezes que até mesmo sob esse ar condicionado estupendo eu sinto calor nas situações de nervosismo. Como agora. Tenho plena consciência de que a menina falou como brincadeira e eu não interpretei como nada além, mas como minha mente precisa de pouco incentivo para começar a fazer conexões, penso na minha casa. Eu tenho uma. Pouca coisa acontece por lá, embora aquele seja o lugar que eu passo a maior parte do meu tempo, fico sempre dividida entre o sono e as tarefas do dia a dia. Tenho a impressão que minha vida só acontece aqui. Através da vida dos outros.
- Eu quero um chocolate.
- Eles ficam todos naquela vitrine.
- Estão pela hora da morte! Você sabe que esses preços são um absurdo?
- Sei.
- Deveria ser contra os princípios de qualquer pessoa trabalhar num lugar com preços tão exorbitantes quanto esse.
Encolho os ombros diante da raiva de outra menina ruiva. Eu pouco posso fazer em relação aos produtos que vendo a não ser vendê-los. Muito menos acho necessário colocar em dúvida meu emprego por discordar da política tarifária do estabelecimento. Todos têm a opção de não comprar. Até porque, logo na esquina tem uma loja de doce onde vende tudo mais barato.
- Então me dá um M&M – diz a menina ruiva ao tirar uma nota de dez reais de uma carteira zebrada.
- Com ou sem amendoim?
- Com. Óbvio.
Não sei o que cresce mais exponencialmente, se a banalização da grosseria ou o número de meninas ruivas nessa cidade. Não sou ignorante a ponto de achar que as duas coisas caminham lado a lado.
A grosseria eu posso classificar como autoconfiança, de uma pessoa ser tão à vontade com ela mesma que não tem problema em se mostrar da pior forma diante dos outros, posso pensar assim desde que essa forma não me atinja, é claro. Já sobre fazer parte do clube minoritário dos enferrujados, imagino que todos os novos pertencentes devem se sentir especiais. Eu sei que eu me sinto. Embora eu não me considere ruiva, apenas “uma pessoa de cabelo vermelho” proveniente do movimento roqueiro num tom que já saiu de moda, mas que ainda consegue ser melhor que a cor original de rato do meu cabelo.
- Uma pipoca grande e salgada – um homem colocou fim aos meus pensamentos vaidosos como todo homem costuma fazer, mesmo que na maioria das vezes o fundo na minha vaidade seja para agradar um deles.
E a julgar pela mulher ao lado daquele homem, a vaidade dela deveria ser um dos fatores que o agradava. Ela fazia a linha estonteante, que sempre deixa a gente sem saber se a pessoa é bonita mesmo ou é só consequência de bons tratos. Ela tem acessórios lindos e pediu uma Coca-Cola light.
- Só tem Zero, pode ser?
- Por favor.
Por favor é uma palavra mágica, igualzinho as mães falam pros seus filhos no momento da aprendizagem. Tão mágica que são duas e se transformam em uma sem perder o poder.
- Uma pipoca doce, pufavor.
- Favor, me dê uma água sem gás – pede um ancião cheio dos bons costumes.
E assim a tarde segue e se deixa virar noite sem que eu perceba, até que... A última sessão.
- Um expresso, por favor. Duplo.
- Um ou dois?
- É melhor dois – ele diz ao seguir o meu conselho e acompanhar meu estado de espírito, por mais abstrato que isso seja.
Eu ainda não consegui desvendá-lo. Pelo menos uma vez por semana ele vem aqui, sempre na última sessão, além disso, não deixa de tomar seus dois expressos duplos e toda vez passa antes pela opção de pedir apenas um antes de se decidir pelo segundo. É difícil enquadrar uma pessoa que se comporta assim em alguma categoria e quando o segundo café termina de encher o copinho de isopor, eu ainda reviro meus conceitos mentais.
- Deu pra você perceber que eu sou alguém com muito sono.
- Ou que o filme que você vai ver é muito chato.
- Na verdade, são as duas coisas.
- Então, acho que não seria conveniente te desejar bom filme.
- Claro que seria – ele responde depois de tomar um gole do café sem por açúcar – bons desejos podem fazer pequenos milagres.
Essa foi uma frase cafona. Fora isso, não sei se gosto quando não consigo adivinhar uma pessoa e ela se responde para mim com suas próprias palavras. Creio que me dá um sentimento de impotência. E potencial para outros.  



O dia
Hoje é domingo, o dia mais movimentado da casa. E como tudo nessa vida, isso tem seus prós e contras. Podia-se ver um festival de padrões: os casais, os filhos pirracentos que me dão até medo de pensar no que eu vou fazer quando for a minha vez de ter que lidar com um desses. Talvez eu nem tenha que lidar, posso terminar tão sozinha quanto estou agora. Tem gente pior do que eu.
- Mas eu quero, mamãe!! Eu quero, quero muito!
- Outro dia a mamãe compra pra você.
- Mas eu quero agora. Agora! Agora! Eu quero agora – o menininho loiro até que poderia parecer ser bonito, se não estivesse quase púrpura e com o rosto contorcido num choro sem lágrimas que só produzia barulho e irritação nas pessoas ao redor. Eu inclusa.
A pobre mãe coça a cabeça sem saber o que fazer. A pobre mãe pelo visto não é tão pobre assim, pois coloca uma nota de cinqüenta reais na mão do menino que correu para comprar o que ele tanto queria. Desse jeito a mãe conseguiu estancar o choro estridente do filho, certamente também criou para si um monstro, porque a criança não é boba e deve ter percebido que esse era o melhor modo de conseguir satisfazer seus desejos imediatos. Eu sei que os meus estão satisfeitos, o burburinho pacífico no saguão me trouxe de volta à placidez. E quando me lembro que amanhã é o meu dia de ver um filme, minha satisfação parece completa.
Como a primeira e a última sessão nos dias de semana são especialmente vazias, a direção do cinema libera um de nós a cada dia para ver um filme de nossa escolha. Minha escolha sempre que envolve luta ou tiros, se possível os dois. É uma pena que eu já tenha visto todos os filmes do gênero que estão em cartaz. Seria uma tremenda quebra de tradição desperdiçar o meu dia de filme com uma comédia romântica. Tenho muita consideração por tradições, porque na maioria das vezes que se sai de uma é para algo pior.
- A gente pode querer uma pipoca grande? Mas você pode dividir o conteúdo dela em dois sacos pequenos?
Não tentei esconder meu olhar de estranhamento. Tem coisas que simplesmente não são normais. E eu não sou nenhuma Embaixadora da Normalidade ou algo do tipo. Só gosto de buscar nas coisas uma ligação com a coerência. Acho que não é pedir muito.
- Sabe, é pra evitar o desperdício, nós dois não comemos a pipoca grande inteira. É um costume que a gente tem.
Sem pestanejar faço o que me é pedido. Cada um com seus costumes. Ainda que eu deteste assumir que contra o desperdício não há nada afazer. Pelo menos não nesse cinema de classe média alta.
Logo que eu comecei a trabalhar aqui isso foi o que me chamou mais a atenção. Quanto dessa pipoca que eu faço chover nessa máquina tão bem iluminada vai parar no lixo? “Boa parte dela”, foi a resposta que eu consegui depois de uma semana. As pessoas deixam, enjoam e não querem saber.
- Faz parte da natureza humana – disse uma das meninas que trabalhou comigo quando eu comecei.
Minha natureza me faz pegar dois terços de um saco de pipoca pequena quando vou ver meu filme. Que é o que me satisfaz. Ainda por cima me incentivo a pagar por ele, de forma que o valor ao montinho de pipoca se torne ainda maior. Devo ter aprendido isso com o Pequeno Príncipe. Para o resto do mundo não faz diferença nenhuma, assim como os costumes do casal, mas se nós deixarmos de valorizar nossas pequenas interferências no meio, nossas vidas perdem o sentido.  
- Sei que pode parecer estranho, mas você pode me dar uma pipoca doce, por favor?
É claro que é estranho. Estamos num domingo, não é nem a última sessão e ele quer comprar pipoca?! Olho em volta dele para me certificar se ele não estava acompanhado. Uma criança, uma mulher, um adolescente grudento, qualquer um que possa me justificar daquela reviravolta que ele se tornou. Não tinha ninguém.
- Vim ver uma animação. Julgo ser importante entrar no clima.
- Boa sorte com sua mudança de hábito.
Se o cara dos dois expressos duplos pode aparecer aqui num domingo e querer pipoca doce, tudo pode acontecer. Entrego a ele seu pedido sem saber o que pode vir depois.
- Estou entrando num novo regime – ele declara – Um regime de mudança, por isso não comecei na segunda como todos os regimes costumam iniciar. Fora isso, não é um regime de comida, ao contrário do que possa parecer.
- Até porque, você não precisa perder peso.
 Ele olha para si e sorri satisfeito. Outra vez eu não consigo entendê-lo. É uma sensação angustiante. Principalmente por saber que existem possibilidades de ele se explicar com palavras. Eu posso não gostar do que vou ouvir. Ou pior...
- O peso é uma das poucas que eu não me preocupo em corrigir em mim. Tenho vivido de um modo estranho. E não digo isso em comparação com a vida dos outros, foi só uma sensação que me bateu... Você gosta de levar uma vida solitária?
- Gosto.
- Eu também. Mas não podemos negar que de tempos em tempos tudo fica bem monótono e é aí que meu regime entra em ação. Toda vez que as coisas ficarem desinteressantes eu vou quebrar a rotina. Boom! Sair em pleno dia de descanso, comer muito açúcar e te perguntar se além de trabalhar no cinema você têm permissão para ver os filmes. Você tem? Permissão, isto é, para ver os filmes.
- Tenho, só de vez em quando. Em média uma vez por semana.
A partir desse momento me surge uma certeza: meu rosto está quase igualado ao tom do meu cabelo. Não sou uma pessoa que tem medo de falar com os outros como se deve. Isso acontece porque, no geral, as pessoas não sabem como falar comigo do modo certo. Por isso respondo a altura. Mas esse cara sabe. Eu não sou só uma atendente, sou alguém com quem se pode conversar. E isso meio que me desarma.
- Você se importaria se eu fosse com você essa semana?
- Acho que você se importaria. Eu vou amanhã, na última sessão e como já vi todos os filmes legais de ação, eu vou ser obrigada a ver um filme chato, tipo esses cults que você assiste junto com seus dois cafés. Tudo vai bem de encontro com as tradições que você está tentando fugir.
- Não vai fazer parte da minha tradição se eu for acompanhado, isto é, de uma pessoa.
Ponto para ele. Fazia sentido. Eu sairia do meu costume de ver um filme violento com dois terços de um saco de pipoca e participaria na tradição dele, porém, a minha entrada iria significar a sua saída. Jogando ambos num território novo. Dava para ver que nenhum de nós dois éramos adeptos a novidades. Ele usa suéteres estilo vovô mesmo quando não faz tanto frio.
Mas saber em qual direção dar um passo adiante é mais difícil do que voltar atrás. Em casos de solidão, quase sempre é possível voltar atrás, pois ficar sozinho é uma opção sua, ter companhia depende de outro. E esse outro que está aqui espera uma resposta.
- Não sei. Não sei nem seu nome.
- Guilherme.

Assenti com a cabeça. O que queria dizer sim. Também queria dizer não para todas as horas que passei atrás desse balcão vendo o mundo acontecer. Não vou negar que acho divertido observar a vida e tentar entender as pessoas e o modo maluco que às vezes elas agem. Mas me passou pela cabeça que viver a vida seja mais interessante.  
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Tava na dúvida se o meu primeiro post do ano seria uma reclamação ou um texto. Aí pensei que tenho o resto do ano inteiro pra fazer reclamações. Não é sempre que faço textos mais longos tipo esse. A ideia foi doada pela Fernanda Campos do Uma dose de café. E as fotos tão bonitas que eu não dei conta de tirar são da Ana B. Ilustrações aka louca dos gatos.