E falam que nossa realidade está mais rápida que nunca... Eu
nunca demorei tanto pra chegar naquele mesmo lugar. Está tudo parado. Não mudou
o caminho, não mudou o transporte, o que mudou, talvez, foram as pessoas. As
quantidades, as prioridades, as necessidades de responder para alguém que está
do outro lado do mundo que ela está presa num engarrafamento horrível.
Houve uma batida entre um carro e um ônibus, foi isso que
aconteceu, o de sempre. A mulher que era a motorista do carro ainda tem o
celular na mão, mesmo que tenha sido por conta do celular que ela se distraiu
do trânsito e bateu no ônibus que vinha logo atrás. Agora ela está nervosa e
precisa falar com alguém que a acalme. Ela não é a única nervosa, nem muito
menos a única que está com o celular na mão. Pego o meu retângulo de luz e
checo há quantas horas estou nessa viagem que, para começo de conversa, nem
sabia que ia ser uma, já vão fazer três.
Todos parecem nervosos. Não posso garantir que todos estejam
nervosos por causa da batida, acho que é mais pelo efeito que a batida causou,
o trânsito terrível, atrapalhando os planos de todo mundo que se viu
encurralado nessa viagem que não tem previsão de acabar, as baterias estão
acabando, acredito que assim como eu todos querem chegar em casa.
O meu passatempo nessa viagem não depende de nenhum vendedor
ambulante, me contento em encenar na minha cabeça o que cada uma dessas pessoas
vai fazer quando chegarem aos seus locais de destino. Será que vão direto para
o banho ou ligam o computador primeiro? Antes de mais nada, é preciso colocar
os retângulos de luz para carregar, isso sim foi algo que a modernidade
trabalhou para encurtar o tempo, isso e a curiosidade par saber como foi que
ficaram as fotos.
Mas de volta às pessoas, fico imaginando se elas ainda
contam o relatório de como foi o dia para suas pessoas preferidas mesmo quando
já mandaram mensagens sobre os acontecimentos ao longo do dia. Se contam, não
tem a mesma graça. Pode ser que não contem, pode ser que passem esse tempo online
contando para outras pessoas queridas que agora ela está jantando com suas
pessoas preferidas no mundo. É importante que o resto do mundo fique informado.
Vivemos na era da informação.
BI-BI, o ônibus buzina quando faz uma manobra brusca para
trafegar na pista reversa. Não sei quantas leis o motorista está quebrando para
se por em movimento nesse trânsito. Sei que fico agradecido. Daqui há três
paradas é a minha hora de descer, mas eu não preciso deixar ninguém avisado. Não
demora nem cinco minutos para eu ligar o computador e escrever o que eu pensei
no ônibus. Quero que todos saibam.